sexta-feira, 25 de abril de 2008

"E já se passou mais um 25 de Abril..."

Mete dó quando se vê um partido como o PSD ser subalternizado por um outro como o CDS. Mas a verdade é que ao PSD, fraco como está, também não se pode colocar padrões de qualidade muito elevados.
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Nota-se bem a diferença entre o discurso do grupo parlamentar do PSD do 25 de Abril do ano passado e do deste ano. No ano passado, Paulo Rangel, exímio orador, num discurso excepcional, falava sobre a perigosa concentração de poder levada a cabo por parte do Governo, não só sobre o coordenador nacional de segurança, sob a alçada directa do PM, como também pelo sucessivo controlo da comunicação social.
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Hoje, ouvimos um senhor chamado Luís Montenegro, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD dadas as suas proximidades com o fatídico líder da mesma, dissertar de forma geral sobre tudo e em concreto sobre coisa nenhuma. Sublinho a triste e lamentável parte em que "lambe as botas" ao Presidente da República, louvando de uma forma ridícula estes dois anos de mandato. Desconfio que Cavaco Silva preferisse manter as suas "botas" no estado em que estavam...
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O CDS, pelo voz de uma das suas jovens promessas, Pedro Mota Soares, começou enaltecendo a relevância da efeméride do 25 de Abril, naturalmente, mas acentuando desde logo - e bem - a pertinência em comemorar com semelhante pompa a não menos relevante data do 25 de Novembro. Realço ainda a proposta falhada do CDS em alterar o esquema destas comemorações (que, através de uma sessão solene na AR, nada dizem aos Portugueses) e o tema-chave do discurso: a questão da demografia.
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Jaime Gama, herdeiro de Jorge Sampaio nos discursos vagos e desprovidos de matéria, antecedeu o Presidente da República. Cavaco Silva alertou não só para o afastamento dos jovens da política, como também para a enorme falta de conhecimento em relação a elementos chave da História democrática portuguesa. Segundo o PR, metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos não sabia responder a NENHUMA das perguntas colocadas através de um estudo elaborado pela Católica, onde havia questões como "Quem foi o primeiro PR eleito após o 25 de Abril?".
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No seu estilo objectivo e prático, informou prontamente a AR e os Portugueses - em sede própria, em meu entender - da sua intenção de iniciar contactos com associações e organizações de juventude para discutir este tema e trabalhar em conjunto para encontrar soluções a fim de se tentar alterar o estado de coisas.

5 comentários:

Anónimo disse...

acho muito bem. só acho é que um ex-primeiro-ministro não tem autoridade nenhuma para dizer aquilo que o cavaco disse...

Anónimo disse...

deu há uns dias uma reportagem que mostrava uns tipos que diziam que o primeiro presidente depois do 25 de abril tinha sido o cavaco silva, que não sabiam quem era o presidente da câmara de lisboa, que não sabiam que o ps tem maioria absoluta no parlamento, por ai...

ASL disse...

Caro LFM,

Há que ver o porquê deste afastamento dos jovens da política. A meu ver, há dois motivos essenciais:

i) auto-descredibilização dos políticos: pela sua própria praxis, os políticos, de uma forma geral (com tudo o que isto acarreta), não constituem exemplo para niniguém. É triste ver o Dr. Luís Filipe Menezes como líder do maior partido da oposição, por exemplo. Logo isto dá uma imagem de descrédito, de pouco rigor, de reduzida fiabilidade nos políticos e nas organizações em que eles actuam - os partidos. Por outro lado, as políticas "fáceis", populistas, baratas, tendo os resultados que lhes são devidos, não têm efeitos a médio/longo prazo na vida das pessoas, não são sustentáveis.

ii) cultura light actualmente em voga: as cultura (ou a falta dela) fácil, do consumo instantâneo e da satisfação do momento não propicia a reflexão sobre temas mais relevantes do que aqueles que são, regra geral, abordados nas telenovelas. Logo, a política fica à margem.

Não me parece que os dez anos do Prof. Cavaco Silva se tenham caracterizado pela falta de rigor e não me parece que a "cultra light" de que falo estivesse tão implantada nos anos 80/ início dos anos 90 como actualmente, pelo que não concordo com a associação do actual PR a esta situação.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

é um bom "resumo" do que se passou na AR nesse dia, e concordo com todos os seus pontos e argumentos. de facto, o CDS, mais propriamente o senhor Luís Montenegro, finalmente deram a este importante dia mais do que uma lição de retórica, mas uma acção em concreto.
Quanto aos dotes oratórios de Rangel, talvez eu não os ache tão sublimes :)

no entanto devo-lhe apontar uma falta no seu texto, pelo menos porque me pareceu que o asl quis englobar todos os discursos do dia e não só os da Direita. esqueceu-se de referir o discurso do deputado do BE, esse sim um discurso refinado e ao mesmo tempo directo, se bem que não tão objectivo como o de Montenegro.

ps: agradeço-lhe muito a atenção que tem dado ao blogue Há Discussão, dos alunos da Faculdade de Direito do Porto, os primeiro-anistas dessa ilustre casa. É um grande apoio para as nossas crescentes ambições de tornar aquele blog num ponto de encontro de estudantes e opiniões.
Até mais ver.

ASL disse...

Pois embora eu actue "por conta própria", também sou estudante de Direito, da faculdade homóloga de Lisboa!
Muito obrigado pelo comentário, também! ;)