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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Humanidade clínica

O neuropediatra Nuno Lobo Antunes publicou recentemente um livro chamado Sinto Muito, onde relata muitas das experiências que viveu enquanto médico. Ou, melhor dizendo, experiências que viveu enquanto homem, e que foram postas no seu caminho em virtude de ser médico.
O livro não aborda a componente clínica que subjaz a qualquer uma das doenças ali em causa, mas sim a perspectiva humana em momentos de dor - para o doente e para a sua família.
Para além disso, o tipo de escrita e a sua estrutura - pequenas histórias de 2/3 páginas - tornam o livro de leitura muito acessível.
A entrevista do Dr. Nuno Lobo Antunes à RTP a propósito deste livro pode ser vista aqui.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Nova versão do Acordo Ortográfico

. Clique na imagem para ampliar..

Fotografia vista na Câmara dos Comuns e tirada do Sapo.
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quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Pedra filosofal

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Como já se fez aqui no Bazar, uma vez mais apresentamos um poema de um autor Português, com o devido acompanhamento musical... Respectivamente António Gedeão e Carlos do Carmo...
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Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
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eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
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Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
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Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
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terça-feira, 12 de agosto de 2008

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"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida... mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure sempre..."
. Vinicius de Moraes
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terça-feira, 10 de junho de 2008

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Por outras palavras

Por outras palavras - Mafalda Veiga


Ninguém disse que os dias eram nossos
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
mais uma madrugada

Ninguém disse que o riso nos pertence
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar-me no mundo
e morrer por ser preciso
Nunca por chegar ao fim

Mafalda Veiga

segunda-feira, 2 de junho de 2008

As incorrecções dos provérbios

Recebi um email que dá conta da incorrecção de alguns provérbios, incorrecção essa que já está muito sedimentada na nossa Língua...

Em vez de: "Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho carpinteiro"
O correcto é: "Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro"!

Em vez de: "Quem tem boca vai a Roma."
O correcto é: "Quem tem boca vaia Roma." (mudando completamente o sentido)

Em vez de: "Quem não tem cão, caça com gato."
O correcto é: "Quem não tem cão, caça como gato..." (ou seja, sozinho!)

Em vez de ser ranhosa, a pobre da ovelha é ronhosa (de ronha).

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Acordo Ortográfico no The Times


O Quarta República mostrou uma notícia publicada no jornal The Times, no dia 21, que passa uma péssima imagem do nosso País. Imagem essa que não é mais do que a descrição daquilo em que se traduz o célebre Acordo Ortográfico.

O jornal explica que "the Portuguese parliament voted last week to change its national language to reflect the more popular Brazilian Portuguese" e, citando Eric Hewett, linguista, afirma que "it is really remarkable that a European colonial power changes its spelling to match that of a colony".

"Not exactly the otimo scenario"...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O (Des)acordo ortográfico

Entrará em vigor o novo Acordo Ortográfico. Devo dizer que uma pequena (ou não) diferença no dito "acordo" ditaria um voto favorável da minha parte no mesmo.
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Ora vejamos: apresentam-se, fundamentalmente, dois argumentos favoráveis ao Acordo:
  • não se justifica complicar a escrita portuguesa; isto é: porquê escrever "óptimo" quando não se lê o "p"?

  • a única forma de Portugal se afirmar na cena internacional é no quadro da UE e da CPLP, e quem vai conduzir o futuro da CPLP será o Brasil, pelo que a grafia deste país é a que deve prevalecer.

Quanto ao primeiro ponto, devo dizer que o tomo como absolutamente injustificado. Qualquer pessoa lê "absolutamente" e "absolutament" da mesma maneira, e não é por isso que a palavra "absolutamente" há-de deixar de ter o "e" no fim! "Xapéu" também pode parecer mais prático do que "chapéu" e não é por isso que se vai mudar a grafia da dita palavra! Para mim, o argumento de tirar letras que não se lê não pode ser fundamento para se aplicar o Acordo Ortográfico, ainda para mais quando o que está em causa não é simplificar a escrita, mas sim subordinar a escrita portuguesa à brasileira. O que, por acaso, se pode traduzir na dita "simplificação".

Concordo também com o facto de que a CPLP é, a par da UE, a organização em que Portugal tem potencialidades de se afirmar no mundo. Mais: reconhecendo, como se deve reconhecer, que o Brasil tomará as rédeas dessa comunidade, parece-me compreensível que a grafia da língua portuguesa a aplicar no mundo seja a do Brasil. Não me choca sobremaneira que um australiano que queira aprender Português escreva "Antônio" em vez de "António" (não obstante eu muito apreciar o acento agudo no meu nome); mas já me choca que em Portugal se queira impôr a grafia peculiar do Brasil, mesmo que apenas em algumas palavras!

Que complexo é este? Não têm os ingleses e os norte-americanos grafias distintas? Não vigora nas declarações internacionais o inglês dos EUA? Se sim - e compreensivelmente -, em que medida tem isso de obrigar os ingleses a escrever "realize" em detrimento de "realise" ou a dizer "sidewalk" em vez de "pavement"? Que sentido faz, daqui por uns anos, considerar-se "óptimo" como erro ortográfico?

A meu ver, a mudança é sempre bem-vinda, mas quando se sabe que há perspectivas de se verificar melhorias em certos aspectos. Não encontro uma única vantagem neste campo!

É um traço da nossa portugalidade que é, sem razão suficiente, apagado sem mais! Por isto, assinei aqui.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Soneto

Para este poema fantástico e tão elucidativo, a musicalidade que melhor se enquadra e que melhor o enquadra:


(Não podem as palavras por Diogo Brito e Faro)


Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.

António Gedeão

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

"A Sombra do Vento"

No Verão do ano passado li este livro.

Aparentamente, é um livro banalíssimo. No entanto, da mesma forma que ouvir uma dada música numa determinada circunstância tem um impacto e um sentido diferentes de noutra situação qualquer, também ter lido "A Sombra do Vento" quando li há-de ter conferido a este livro um carisma ainda mais especial.

Claro que poderia resumir aqui o livro. Enfim, a própria "A Sombra do Vento" é sobre um livro homónimo, mas como se me contassem a história d'"Os Maias" eu dificilmente iria a correr para o ir ler (visto que a sua mais-valia é o tipo de escrita, a ironia, o sarcasmo), também vou poupar os leitores deste blogue a essa eventual exposição.
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É um livro fortíssimo, que muito se desenrola sobre a força da Amizade e as consequências que dela advêm, e no qual se inclui o suspense criado por qualquer policial magnificamente escrito, sobretudo incidindo no conturbado período da guerra civil de Espanha e na encantadora cidade de Barcelona.
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E, estando tão bem escrito, torna-se naqueles livros perfeitamente devoráveis em pouco tempo, ansiando o desfecho da história, mas procurando, simultaneamente, ir saboreando aquelas páginas com o vagar que lhes é merecido.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Compreensão

Já tinha publicado este poema noutras paragens, mas resolvo reapresentá-lo, agora no Bazar.

Um ser amado que desilude.
Escrevi-lhe.
É impossível que não me responda
aquilo que eu me disse a mim mesma
em seu nome.

Os homens devem-nos
o que imaginamos que nos vão dar.
Pagar-lhes esta dívida.

Aceitar que sejam diferentes
das criaturas da nossa imaginação,
é imitar a renúncia de Deus.

Também eu sou diferente
daquilo que imagino ser.
Saber isto,
é perdoar.

Simone Weil

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Reading in English

Sempre me mostrei muito reticente em ler em inglês livros que não fossem orginariamente escritos nessa língua.

Sempre achei que as nuances de uma determinada língua, ainda que detectadas por um bom tradutor, nem sempre seriam bem notórias para o leitor quando traduzida. E que o próprio estilo de escrita do autor da obra ficasse um pouco distorcido por uma tradução que, ainda que bem feita, não fosse capaz de desenhar todas as subtilezas da forma de escrever.

No entanto, tentando desmistifcar este meu preconceito, comprei To the capital, isto é, A Capital, de Eça de Queiroz, numa versão traduzida por John Vetch, aproveitando um vale da Bertrand.

Infelizmente, confirmei as minhas expectativas. Sinceramente, penso que o velho Eça ficaria tão desiludido com aquilo que é apresentado àqueles que não falam Português... Não ponho em causa a qualidade da tradução (de resto, dificilmente poderia avaliar esse trabalho), mas a tal subtileza da escrita e das palavras de que há pouco falava passa muito ao lado da tradução. Ontem pus-me a imaginar de que forma terá Eça de Queiroz escrito aquilo que eu lia em inglês e o variado vocabulário que terá utilizado para retratar todas aquelas circunstâncias.

Claro que muitos dos livros que já li são eles mesmo fruto desta falha, uma vez que a grande maioria dos livros de autores estrangeiros que tenho está em Português. A verdade é que me habituei ao estilo de escrita desses autores numa versão já traduzida para Português e, portanto, também me habituei às faltas que isso acarreta.

Agora, tendo um termo de comparação entre Eça na sua versão original (com todas as maravilhas que a sua escrita tem) e uma versão traduzida, devo dizer que se torna muito redutor falar sobre este autor com base na versão não original.