quinta-feira, 26 de março de 2009

O Papa e os media

Permito-me não me debruçar sobre aquelas que entendo serem as prioridades para a política externa do Estado do Vaticano, avaliando objectivamente a estadia de Bento XVI em África. Parece-me que a visita foi globalmente positiva.
Claro que assim que o Papa satisfez o desejo ardente dos jornalistas e falou dos métodos contraceptivos, mediaticamente a viagem ficou arruinada. Pouco interessou às pessoas que Bento XVI tivesse sido a única personalidade política (sim, lembremo-nos de que o Papa é chefe de Estado) dos últimos anos (décadas?) a denunciar em África, à frente dos estrategas e das cabeças daqueles regimes, a injustiça, as desigualdades e a corrupção existentes naquele continente. Claro que isto passou ao lado da opinião pública, e, de forma geral, a visita do Papa a África resumiu-se àquelas declarações sobre o preservativo.

Incompetência dos media, que não fizeram uma cobertura profissional da visita; e pouca perspicácia do Papa, que foi repetir algo que já todos sabiam e que previsivelmente iria condenar o périplo.

4 comentários:

Alexandre Poço disse...

Apesar de infelizes, as palavras do Papa, tinham um sentido mais complexo de entender, isto é, Sua Santidade, deseja que o combate à SIDA seja mais moral e racional por parte das pessoas. Com aquelas palavras queria também criticar, pois entende que os homens em relação ao sexo têm uma postura animal e não medem as consequências. Porém, esta interpretação só é possível a quem observa os factos à distância, nem com o mais profundo sentimento de ateu e sensasionalista, nem com o ferveroso lado cristão que existe dentro de si.
A intenção era boa, das palavras escolhidas já não se pode dizer o mesmo.
Contudo, volto a realçar, é simultaneamente um acto mal pensado por parte do Papa, mas também uma interpretação parcial por parte da comunicação social e dos comentadores, pois estes estão sempre à espera da mais infíma coisa para criticar a Igreja e realçar as atitudes, que em relação a certos assuntos, são condenáveis.

Abraço

ASL disse...

Claro! O problema do Papa - e de alguns políticos - é a dificuldade que tem em perceber que qualquer coisa que diga será logo ouvida com cepticismo ou com um olhar (ou ouvido) crítico, portanto tudo aquilo que diz terá de ser medido ao milímetro. Porque é muito bonito dizer que temos de ser fiéis aos nosso princípios e que não nos interessa o que os outros dizem, mas ser fiel aos princípios não significa não medir a forma como dizemos as coisas e a maneira como passamos a mensagem.

Frederico Dias de Jesus disse...

Só um pequeno recado, visto que já lá vão os tempos que sua "Santidade" foi a África, falas de injustiça, desigualdades e corrupção, o que não deixa de ser uma grande verdade, mas o Estado do Vaticano que alerta tão conscientemente para estas situações moralmente e socialmente decadentes, também faz das suas.
Só na visita a Angola "angariou" 8 milhões de euros para a "causa", deve ser, pois imaginemos, para ajudar os refugiados que abundam naquele continente, ou então para ajudar a pagar o investimento de 80 milhões em Fátima (o que foi uma grade obra, porque o que os fiéis mais necessitam é de mais uma igreja, caridade e apoio social, tá quieto ó padreco que a malta quer é igrejas).
Talvez esse Estado dentro do Estado não seja tão "puro" e "casto", como a malta pensa.
Imagina, que estou para aqui a tentar lembrar-me da última vez que a Igreja de Roma lutou contra as desigualdades e corrupção, deixa cá ver..... já sei, não esquece a verdadeira identidade do Cristianismo, o Cristianismo PURO foi perdida, pois a igreja tornou-se num lobby, tornou-se o "inferno" na terra pois em vez de uma instituição religiosa, tornou-se numa instituição bancária, esperemos que não sofra com a crise, porque senão quem é que alimenta os vícios dessa massa eclesiástica "bendita".

Abraços, FJ

PS-(Tens um excelente blog, para um excelente debate de ideias).

ASL disse...

FJ, é bem verdade! Muita da identidade pura e nata do Cristianismo foi-se perdendo ao longo dos séculos, e muitas das coisas que hoje as pessoas tomam como sendo a posição da Igreja não coincidem com a origem verdadeira do Cristianismo.

Agora, daí a que a Igreja não faça nada no combate às desigualdades e à corrupção vai uma diferença enorme! A grande maioria das ONG’s que estão em África (e noutros continentes) depende da Igreja Católica/é de matriz cristã. A verdade é que se essas ONG’s não estivessem em África, seriam ainda mais os sub nutridos – e sobretudo aqueles que não teriam acesso à Educação (e, como alguém que não me lembro quem disse, “ensinar é dar para sempre”). Penso que todos concordarão que a Educação é uma óptima forma de tentar lutar contra as desigualdades. Conheço bem a actuação de organizações como os Leigos para o Desenvolvimento e sei como as pessoas que lá estão (mais do que ao serviço da Igreja, estão ao serviço de Deus por meio dos outros) se desdobram em 1001 actividades diferentes, percorrendo quilómetros para satisfazer as inúmeras necessidades de tanta gente, com tão poucos recursos disponíveis. Respondendo à tua pergunta de quando foi a última vez que a Igreja fez alguma coisa, arrisco a que a minha resposta seja AGORA MESMO!

Isto é um exemplo do trabalho da Igreja nas zonas mais pobres, mas também o há aqui mais perto de nós. Imensas paróquias em Portugal (sobretudo nas Áreas Metropolitanas) têm tido um especial cuidado em voltar a orientação espiritual que oferecem para a difícil situação financeira das famílias portuguesas, isto para não falar de organismos como a Comunidade Vida e Paz – e outras – que dão de comer a um crescente número de sem-abrigo. O CUPAV – Centro Universitário Padre António Vieira – vai lançar daqui por umas semanas um projecto de acompanhamento e de integração de jovens recém-licenciados que não encontram emprego. Isto para mim é uma Igreja presente, que vai ao encontro das necessidades das pessoas…

E sim, o novo santuário foi uma grande obra! Aliás, tal como o Cristo Rei, que há pouco tempo fez 50 anos, também o novo santuário de Fátima foi pago pelos católicos que o quiseram custear! Mas, de facto, quem mais critica a gestão que a Igreja faz do seu património é quem não faz parte dela, o que é no mínimo caricato! Até dá a entender que têm um certo complexo que não lhes permite reconhecer o mérito que a Igreja tem, por um lado, em fornecer acompanhamento espiritual e proporcionar um crescimento da relação dos seus fiéis com Deus, e, por outro, em prestar ajuda àqueles que menos têm. Dizem que ela é desnecessária e é um poço de interesses, mas depois exigem dela ajudas e apoios. E é claro que ela os dá – mas antes de criticar convém procurarmos informação.

Obrigado pela visita! ;)